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Santa Liberdade
25 octobre 2005

O Culpado Desmascarado

Antes todos ou quase todos estavam seguros que o antigo presidente, Fernando Henrique Cardoso, não prestava. Atualmente todos ou quase todos concordam que o presidente atual, Luiz Inácio Lula da Silva, não presta. O sucessor do presidente atual, em seguida ao entusiasmo provocado pela campanha eleitoral e, depois, pela cerimônia de posse, provavelmente também passará a prestar muito pouco, ou mesmo nada, segundo a opinião unânime ou quase unânime. Isso é tão lamentavelmente previsível que temo que o leitor pense que estou zombando de sua inteligência escrevendo estas palavras. Asseguro que não é essa a intenção.

O que pretendo aqui é dizer, com todo respeito, que talvez (talvez não: provavelmente) o principal problema não é o desastre que o Lula está se revelando, como o problema não era com o incompetente que Fernando Henrique Cardoso foi. O problema estava e está em nós. Nós, brasileiros, como povo. Nós, brasileiros, como matéria prima de um país. Porque somos um povo em que a malandragem é uma moeda tão ou mais valorizada quanto o dólar ou o euro.

Um povo que vê maior mérito em se tornar rico de uma hora para outra do que em formar uma família onde se respeita ao próximo ao longo do dia a dia, e por várias gerações.

Um povo entre o qual não se pode vender jornais como se vende em outros países, ou seja, com uma maquininha numa rua movimentada onde cada um deixa uma moeda e pega um exemplar, deixando os outros onde estão.

Um povo onde cada um se sente muito satisfeito consigo mesmo se conseguir parasitar a transmissão de uma rede de TV a cabo de um vizinho. Ou as correntes de água encanada para todo um bairro.

Um povo onde cada um se sente muito a vontade se consegue inventar pretextos para conseguir abatimentos nos impostos a serem pagos, ou mesmo não pagar nada. (Mas milhões se enchem de indignação se um ricaço fizer a mesma coisa...).

Um povo onde a impontualidade é vista como coisa natural. Onde os grandes empresários pouco se interessam pelo chamado capital humano. Tanto quanto seus empregados pouco se importam em se aprimorar por conta própria, mesmo quando têm oportunidade para tal.

Um povo totalmente desinteressado por leitura e sem consciência ou memória política, história ou econômica. Que elege deputados e senadores para trabalharem três dias por semana durante mais ou menos dois terços das semanas do ano. Trabalham? Talvez fosse melhor dizer que comparecem ao local de trabalho por algumas horas, às vezes alguns minutos. Os que levam a legislatura a sério, pouco mais da metade. Sem deixarem de receber pelos dias de ausência, está claro. Geralmente o produto de tal "trabalho" são leis que fazem rir pelo pitoresco, que raramente são postas em prática (se chegam a ser votadas e aprovadas, pois o normal é ficarem anos e anos na fila...). Ou então "reformas" administrativas, previdenciárias ou fiscais que mais mereceriam o nome de remendos, pois consistem em fundir várias propostas iníquas de vários políticos de vários partidos. Políticos que raramente protestam contra o aumento de impostos que geralmente se seguem a quase todas estas reformas e só o fazem quando estão na oposição.

Um povo que paga para ganhar carteiras de motoristas, vagas em universidades e mesmo diplomas universitários sem necessidade de nenhum exame. Um povo entre o qual há pessoas que, quando vêem subir no ônibus uma senhora grávida, um senhor de idade ou um deficiente físico, fingem estar dormindo para se esquivar de ceder o lugar reservado a estas pessoas. E quando ouvem uma reclamação se levantam, mas sempre para responder com palavras rudes e geralmente chulas.

Um povo onde há muitos estudantes que quanto mais insultam ao presidente de plantão (qualquer que seja ele) mais "politicamente conscientizados e socialmente sensíveis" se sentem, e acham perfeitamente natural pagarem pelas respostas de um exame antes da prova. Um povo onde as pessoas se indignam quando ouvem falar em casos de clientelismo ou licitações irregulares em assembléias estaduais ou câmaras municipais de lugares distantes mas acham perfeitamente natural trabalharem na campanha de um candidato a deputado ou vereador em troca de uma "boquinha" destas.

Não, não, assim não dá! Chega! Basta! Como matéria prima de um país temos muitas coisas boas mas falta muito para nos tornamos os homens e as mulheres que nosso país precisa. São nossos defeitos, nossa malandragem congênita, nossos pequenos casos de malandragem em pequena escala que depois crescem até se tornarem grandes escândalos, nossa falta de vergonha na cara que nos mantém e nos manterá sempre em má situação, muito mais que qualquer juro de dividas internas ou externas, que qualquer golpe (ou contragolpe) de Estado, que as trapaças de qualquer partido. Lamento, porque mesmo que o presidente Lula renuncie hoje mesmo seu sucessor terá que trabalhar com a mesma matéria prima defeituosa que, como povo, somos nós mesmos. E não poderá fazer muita coisa boa, é claro. E é claro que outros não poderão fazer muito mais. E é claro que todos eles têm defeitos graves porque eles todos são parte do povo que os elegeu e que tem defeitos graves.

Do que precisaríamos? Talvez de um iluminado com poderes ditatoriais que nos imponha um bom comportamento por meio de força e terror? Não! Esse "iluminado" virá do nosso povo e não poderá corrigir nossos defeitos porque necessariamente terá nossos defeitos - já que é parte de nós. O que temos falta é de algo mais, nossa carência é outra. E enquanto este "algo mais" não aparecer de baixo para cima ou de cima para baixo, ou do centro para os lados, como quiserem, estaremos para sempre condenados, para sempre paralisados, para sempre fo...!!!

É muito agradável esse nosso jeito de ser, em muitas ocasiões. Mas quando isso começa a prejudicar nosso desenvolvimento como nação é preciso mudar.

Deixemos de esperar milagres de Deus e de seus anjos. Ele não nos mandará nenhum messias milagroso. Nós mesmos temos que escolher nossos homens públicos e eles só serão bem escolhidos se nós mesmos fomos um bom povo.

Se passamos por maus momentos certamente tem que ter um culpado. É preciso pegá-lo, claro. Mas não com pensamentos perturbados por desejos de vingança. Não, antes de castigá-lo com qualquer sanção pouco ou muito drástica seria melhor exigir-lhe (sim, exigir-lhe) que melhore seu comportamento e adote outra postura não apenas nas coisas públicas mais imediatas, mas também diante da vida em geral.

Estou certa que encontrarei o culpado dentro do espelho quando olhar para lá. Ali está. Não preciso buscá-lo em outro lugar.

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